

Mangás: Onde tudo é possível com a ponta de um lápis
Como publicações que serviam apenas de lembranças para imigrantes tornaram-se o principal expoente da cultura japonesa no Brasil
No ano de 1908, um navio de imigrantes japoneses aportava em Santos. Em meio às bagagens daqueles que vinham ao Brasil para enriquecer financeiramente, havia livros de histórias de ficção que os nipônicos traziam como memória cultural de seu país, que também serviam de ferramentas para que seus filhos não perdessem a língua nativa. Esses livros, chamados de mangás, foram o primeiro legado no Brasil de uma cultura que, hoje, vai muito além de simples publicações e tornou-se um mercado que movimenta milhões de reais por ano, entre produtos editoriais e audiovisuais.
Os mangás são as histórias em quadrinhos japonesas. No entanto, a construção e composição em relação aos livros ocidentais é bem diferente. Para começar, o mangá se inicia na página final, sendo lido da direita para a esquerda e de cima para baixo. As histórias geralmente são desenvolvidas em grandes almanaques e podem ser divididas em capítulos, ao longo de edições diferentes, ou podem até mesmo ocupar um almanaque completo. Normalmente, também são mais longas e detalhadas, inclusive as ilustrações.
A imaginação é exercitada pelos mangakás no processo criativo. Gêneros como ação, aventura, terror, suspense e até erotismo são abordados em ilustrações, que destacam o olhar dos personagens, e em textos que procuram trazer ao leitor o tom descritivo da situação.
Apesar dos mangás terem décadas de história, o boom no Brasil ocorreu somente entre os anos 1980 e 1990, quando se deu a publicação do mangá Lobo Solitário e, principalmente, do anime Os cavaleiros do zodíaco. Tanto que, este último, em 2016, 30 anos depois de seu lançamento, foi responsável por 10% do faturamento da editora JBC, uma das principais do país no segmento.
No Japão, segundo dados da Associação Japonesa de Papel, os mangás representam por volta de 40% do material impresso do país e movimentam perto de US$ 3,6 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões) em vendas por ano.
Também foi no país nipônico que o sucesso dos mangás e animes deu origem a outros tipos de produção, como os fanzines (ou doujinshis). Estas publicações, feitas de maneira independente, podem criar histórias novas inspiradas em mangás já conhecidos, trabalhando a curiosidade dos leitores já saturados com publicações oficiais.
O cenário de mangás e animes está atualmente concentrado na internet, em festivais e em lojas especializadas, onde o público se faz presente consumindo e compartilhando produtos famosos ou independentes, pois é um espaço onde tudo e todos são bem-vindos.


